domingo, 18 de julho de 2010
NOS BASTIDORES DA FEIRA HIPPIE- A REPORTAGEM
Nos bastidores da Feira de Artesanatos e Variedades, na Avenida Afonso Pena, em Belo Horizonte, muita gente corre antes, durante e depois para que essa seja a maior feira de artesanato da América Latina.
São cerca de 600 trabalhadores nas áreas de montagem (440 carregadores e montadores), limpeza (80 garis), segurança (aproximadamente 50 policiais), fiscalização (95). Trabalhadores que prestam um serviço indispensável para que a feira aconteça semanalmente há mais de 25 anos, mas passam desapercebidos, diante do cenário em que os artesãos e artistas plásticos são sempre a grande atração. Trabalhadores que, no anonimato, contribuem para a sobrevivência de muita gente e fazem de Belo Horizonte, uma importante fonte de turismo e renda.
Há quatro anos, Lucas, 16 anos, estudante da 8ª série, levanta cedo todo domingo. Mãos calejadas e roupas surradas aparenta ter 12 anos e passaria por um pivete. Mas antes da 3h da manhã já está de pé, porque às 5h tem que estar na feira, onde ganha R$3 reais por carreto e gorjeias pela ajuda na montagem e desmontagem das barracas.
Com jeito de quem quer vencer na vida, traz dentro de seus olhos a esperança de que com esse trabalho e com o estudo vai conseguir uma vida melhor. "Trabalho no domingo porque dia de semana é dia de estudar", explica o menino.
Maura, 60 anos, em seu jaleco branco, parece uma auxiliar de enfermagem, destas que medem a pressão na rua, mas, na realidade é auxiliar de serviços gerais de uma escola municipal. No domingo, é diferente, ela trabalha na barraca de informação da Prefeitura de Belo Horizonte. Sabe tudo sobre a feira. Num domingo desses, uma barraca de comida perto da sua, vazou gás e pegou fogo. "Eu ia ficar uma velha fogosa", a sorte que os bombeiros chegaram logo, brinca. Maura diz que já poderia ter se aposentado, mas, enquanto tem "oportunidade e saúde" precisa continuar trabalhando. "A feira é um dinheirinho extra que não dá para dispensar"
Mônica, casada, com filhos, leva no peito a patente de Tenente e comanda cerca de 50 soldados do 1ºBatalhão da Polícia Militar do Estado de Minas Gerais (PMMG), que fazem a segurança da Feira. Fica o tempo todo, com um radio da polícia na mão, que se comunica com quem está na ronda e é informada das ocorrências. Ela também faz sua própria ronda para dar uma conferida. "Aqui, a gente tem que ser um pouco de tudo: para os comandados, chefe. Para as pessoas que são detidas, a lei. Para as que vêm nos procurar porque foram roubadas, além de policial, a psicóloga".
Mônica afirma emocionada que o trabalho é árduo, estressante, mas, também dá a sensação do dever cumprido.
"Quem diria que uma varredora de rua conseguiria formar duas filhas enfermeiras", orgulha-se Adelina Apolinário, que varre a feira há mais de 15 anos. Dificuldades e lutas para sobreviver marcam sua vida. Trabalha desde menina e, aos 12 anos, já fazia tijolos numa olaria. Começou a freqüentar a escola aos 10 e, somente quando adulta, formou a quarta série. Mãe de nove filhos criou-os "com a graça de Deus".Apesar, dos que a achavam velha, com seus mais de 50 anos, há um ano voltou para escola. Aprendeu na aula de redação a fazer poesia. Agora, sonha em terminar o primeiro grau, registrar as poesias que escreve e fazer sua biografia. Durante a semana, Adelina é fiscal de um microposto da Superintendência de limpeza urbana (SLU), na rua Aimorés, entre as avenidas Bias Fortes e Álvares Cabral. "Nesse corre, a nossa vida se torna uma rotina", diz um dos versos da poesia "O sabiá", escrita pela varredora.
Lucas, Maura e Mônica conhecem bem o corre corre a que se refere a colega poetisa por fazerem parte do exército de trabalhadores que nos bastidores da famosa Feira Hippie dão seu show.
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