quarta-feira, 2 de julho de 2008

Mudez de alma


Alessandra sl nascimento
Quando me calo, falo mais do que o normal.
Meu normal , é falar o tempo todo.
Há tempos briguei com o silêncio.
Há tempos me indispus com a solidão.
Há tempos botei na cabeça que os dois são companheiros fiéis.São casados e felizes.
Há tempos luto para não ter notícias dos dois.
Mas... eles teimosos como são, picardiam –me qual fantasma em pesadelo de criança.
Então, ponho-me a fazer um escarcéu que a todos inquieta, irrita, incomoda ,movimenta a vida, agita qualquer ambiente.
Esta é arma que de mim os afugenta, mas a todos atormenta.
Atormentada ,que sou, afugento de mim quem prezo, no barulho que me é peculiar, no burburinho que não consigo silenciar.
Cá, estou , tentando fazer de novo, meu tantas vezes proferido, voto de clausura.
Declarando a mudez dos meus lábios, para não declarar a mudez da minha alma, que grita calada , por não ser compreendida.
Quando me calo, ouço os gritos da minha alma que por ter horror á solidão, pavor ao silêncio, se agita, e sedenta absorve todo conhecimento que a memória pode guardar para não ouvir os seus próprios ecos .
E,assim, sei mais do que preciso, falo mais do que devo .
Como fanfarra em funeral, sou eu pela vida. Tentando alegrar a todos sem êxito em sua missão.
Já corri o mundo inteiro e não saí do lugar. Já li muito , escrevi demais, mas não aprendi o bê-á-bá.
Sou como canção repetida, que o rádio não pára de tocar.
Minha vida, é uma roda gigante que nunca pára de girar ,um corredor que corre em velocidade da luz, enquanto o mundo todo teima em andar como em câmera lenta.
Minha mente é um vulcão em erupção constante, fervilhando idéias sem nunca parar.
Por mais que eu tente, lute , não consigo desacelerar.
Na minha cabeça é dia sempre, é tempo urgente, tempo de trabalhar.
A noite, nunca chega o sono calmo para que eu possa descansar.
Até na cama é um vira revira , um agitar , um movimento , uma tormenta como no mar.
Procuro um meio de parar essa avalanche que há dentro de mim, sem parar o que eu sou. Sem precisar emudecer a minha alma, sem deixar de ser eu.
Sem me transformar outra vez, num produto de fazer tudo que todos querem, para ser aceita no mundo.
Decidi ser feliz, mas equilibrar isso tudo : o mundo , eu, outros , o que eu quero ser, o que querem e esperam de mim , a vida toda , o eterno movimento... o sem parar contínuo....
Por mais que eu caminhe, tem muito chão para caminhar.
Quero Fazer da vida uma descoberta linda e descobrir tudo que tenho para aprender .
Descobri que as pedras duras do caminho, machucam os meus pés, me causam dor, senti aquilo de bom que a dor pode produzir em mim.
Descobri que toda rosa tem espinhos, quando neles me feri., e sofrendo também aprendi.
Descobri que ser do jeito que eu sou, não é justificava para não melhorar.
Quando a minha alma se cala, grita silenciosamente só e arrebata-me de novo á vida


Dedicado aos que tem que passar pelo suplício da minha companhia. Aos que convivem com meu turbilhão de mim e assim mesmo me amam, apesar de não compreender por que eu sou assim.Aos que vivem ao meu redor perplexos e surdos pelo furacão da minha presença. E a todos que não sabem o que a doença de Basentown Graves faz com seus portadores.