Alessandra sl nascimento
Tias com nome de flor.
Flores em forma de tias.
Cada qual com sua essência,
seu perfume , sua cor.
Violeta sempre florida,
regada com amor,
na jardineira da vida
cada qual com seu valor .
Por parte de pai , ainda vive
Por parte de mãe, já secou.
Cada qual tem sua marca.
Que em tempo nenhum se apaga
Cada qual em seu lugar
Sentindo , florindo, vivendo,
Suas vidas , sua saga.
O que pode haver em comum , além de serem Violeta?
Além de serem ambas minhas tias avós?
Além de serem solteiras?
Além de viverem sós?
Tias com nome de flor .
flor em forma de tia,
Tinham cada uma por irmã uma Maria
Cada qual com sua essência
Seu perfume sua cor
Cada qual em sua excelência
Carentes como flor,
Apesar , da austera aparência,
Carentes de cuidado e calor.
Minhas, tias:
Violetas tão iguais!
Violetas tão diferentes!
Um pouco de flor , um pouco de tia.
Um pouco de gente , um pouco de vida
Nem imperfeitas, nem santas,
apenas um pouco de tia ,
apenas um pouco de flor .
DUAS VIOLETAS, DUAS TIAS.
Minhas Tias , têm por nome Violeta . São de lados opostos, uma por parte de pai, outra por parte de mãe. A primeira ainda vive, imponente como um carvalho. A outra morreu segurando a minha mão.
Sozinha , num apartamento ,no centro de uma capital, a primeira , luta , guerreia contra a solidão e o tempo.Caminha todo dia, no parque municipal, para manter a forma, vestida a caráter , com seu porte altivo e elegante, postura de bailarina, narizinho arrebitado e tudo. Uma gracinha...toda serelelepe caminhando pela calçada. Cheia de beleza e graça .Com seu terço ,sempre á mão, reza , vai a missa .
Costureira de alta costura, ainda faz suas roupas. Estilista , com seu peculiar conceito de moda e um estilo inimitável, sempre surpreende no figurino. Não só nas festas , mas em qualquer lugar que vá.
No coração , guarda lembranças , que ás vezes são muito ruins. Então , adoece e chora.
Mas... como toda flor , tem nesse mundo missão de embelezar,e, não se deixa murchar ,de novo, brota : Linda , colorida , resplandecente, alegrando nossa vida .
A segunda, era no mínimo “sui generis”, nascida em 1894, com mania de “Branqueza,” dizia ser descendente dos holandeses e dos portugueses, que invadiram Recife ,sua terra natal.
Vivia cantando músicas e hinos que minha cabeça teima em lembrar. Falava ditados populares, um atrás do outro como se fossem um alerta , um conselho. Lia muito a bíblia, fazia seu culto todo dia. Eu voluntariamente participei,algumas vezes, dos cultos dela, de vez em quando e dá uma saudade.....
Recebia pensão , por parte da falecida , Maria , sua irmã, esta , professora , orgulho da família , independente , uma mulher á frente do seu tempo. Com esta pensão , se mantinha a casa da minha avó. Comprava suas roupinha, seus badulaquezinhos, seus remédios. Mas.. nunca mexia no dinheiro antes de tirar o Dízimo. E, toda roupa e sapatos novos só “estreiava” na igreja e aí então , podia usá-los em outros lugares.
Caducou cedo, lá pelos idos de 1980, começou vendo coisas e pessoas, conversava horas com objetos e coisas. A vista ficou fraca , se apaixonou por uma maçaneta e sofria de amores por ela. Chegava a ficar deprimida. Depois, da paixão acabada, cada dia, mais caduca ,sem reconhecer ninguém, falava sozinha: - quero casar , casar, casar.... os panos das cascas....quem avisa amigo é....quem não ouve conselhos, raras vezes acerta.
E falava versículos da bíblia:
Não te deixarei nem te desamparei... não temas nem te espantes...
Cantava hinos , repetidas vezes, sempre com uma carinha feliz.
Agradecia , sempre que a gente penteava os seus cabelos branquinhos, dava um banho , a limpava ou quando a gente lhe dava comida na boca com colher ou mamadeira.
Era feliz do seu jeito, ás vezes , implicante, ás vezes cheia de manias da idade.... mas deixou sua marca em mim, seu perfume, sua cor , seu jeitinho inesquecível de flor .
Minhas, tias:
Violetas tão iguais!
Violetas tão diferentes!
Um pouco de flor , um pouco de tia
Há um pouco de gente , um pouco de vida
Nem imperfeitas, nem santas,
apenas um pouco de tia ,um pouco de flor .
